sábado, 7 de abril de 2012

O amor é fogo que arde sem se ver?


Luiz de Camões, “um mancebo pobre”, segundo relatório de um juiz ao abreviar sua sentença por brigas em butiquim, mas relacionado, principalmente com a corte de D. João III. Suas relações amorosas na corte, em especial com a subrinha do rei, lhe provoca ao envio para Celta, Africa, contra os mouros, perdendo o olho esquerdo em batalha. Estas aventuras, dão espiração para inúmeras obras, e uma destas, tratada neste texto.
Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
    
Entendo que Camões se equivocou ao qualificar o amor como um sentimento de dor, descontentamento, solidão, prisão, servidão, ser fiel a quem é traissueiro... pois trata de atos que restringem as relações interpessoais aumentando a competição entre os indivíduos. Estas emoções, transcritas pelo autor, são de estremo desconforto para aqueles que as sentem e quando não são correspondidos pelo mesmo sentimento acabam evidenciando emoções negativas como ciúmes, inveja, rancor, agonia, depressão... A paixão, por outro lado, esta mais afim aos sentimentos exposto por Camões, pois trata-se de uma emoção possessiva em que qualifica o outro como sua propriedade. Em nome da paixão não correspondida homens e mulheres motivados por rancor ou ciúmes foram responsáveis por homicídios, agressões morais e físicas alimentando a sensação de insegurança no seio familiar e outras relações. Portanto, “o amor é longânime e benigno. O amor não é ciumento, não se gaba, não se enfuna, não se comporta indecentemente, não procura os seus próprios interesses, não fica encolerizado. Não leva em conta o dano. Não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. Suporta todas as coisas, acredita todas as coisas, espera todas as coisas, persevera em todas as coisas.” (1ªCorin. 13:4-7) Esta capacidade de se solidarizar com o outro tornou nossa espécie infinitamente mais superiora em relação à outros animais. Passamos a viver em grupo; a nos comunicar e a sentir empatia. Todo o ser humano inapto para compartilhar esta habilidade, o sociopata, passou a ser descartado, excluído da vida social. Desta forma,

Se eu falar em línguas de homens e de anjos, mas não tiver amor, tenho-me tornado um [pedaço de] latão que ressoa ou um címbalo que retine. E se eu tiver o dom de profetizar e estiver familiarizado com todos os segredos sagrados e com todo o conhecimento, e se eu tiver toda a fé, de modo a transplantar montanhas, mas não tiver amor, nada sou. E se eu der todos os meus bens para alimentar os outros, e se eu entregar o meu corpo, para jactar-me, mas não tiver amor, de nada me aproveita.(1ªCorin. 13:1-3)
Por tanto, os sentimentos transcritos pelo autor deste emocionante soneto, estão mais relacionado com sensações típicas de alguém preocupado em satisfazer suas anciedades e preocupações do que a solidarização com o ser semelhante. Isto posto, a palavra adequadamente substituivel para o melhor esclarecimento certamente é a paixão.
Referências Bibliográficas:
Monte Castelo, Legião Urbana
Postado em gravataiagonizza.criarumblog.com 28/08/11 de mesmo autor, Edgar Dornelles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário